Orelhões resistem na era do celular e Paraná é o 2º estado com mais telefones públicos ainda ativos
Num tempo em que o celular ainda não existia ou era coisa para alguns poucos abastados, os Telefones de Uso Público (TUP), popularmente conhecidos como orelhões, eram uma das principais formas de comunicação no Brasil, espalhados pelas calçadas de todas as cidades.
Com a popularização da telefonia móvel, no entanto, esses equipamentos quase acabaram. Quase, porque sim, os orelhões ainda estão entre nós e em número surpreendentemente expressivo, sendo utilizados por aqueles que, numa emergência por falta de celular, acabam telefonando a cobrar ou com os nostálgicos cartões telefônicos, cada vez mais difíceis de se encontrar por aí.
Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ainda hoje há 49.413 telefones públicos disponíveis no Brasil.
São Paulo é o estado com mais orelhões ativos no país, somando 27.962 equipamentos.
O Paraná, por sua vez, aparece na segunda posição, com 2.208 telefones públicos, seguido por Minas Gerais (2.066), Bahia (1.970) e Ceará (1.698).
Entre os 399 municípios paranaenses, apenas 61 (15,3% do total, todas cidades de pequeno porte) não possuem nem um orelhão sequer operante. Por outro lado, Londrina é a cidade com mais telefones públicos ainda disponíveis (256), seguida por Curitiba (191), Paranaguá (52), São José dos Pinhais (49) e Araucária (34).
Ao longo dos últimos anos, contudo, a grande maioria desses equipamentos foram sendo abandonados. Prova disso é que a Anatel registra a existência de um total de 6.448 telefones públicos no Paraná, mas apenas 34,2% desses orelhões ainda funcionam (os outros foram desativados por conta da falta de uso ou por vandalismo). Em Curitiba, onde já houve 609 equipamentos, apenas 31% resiste.
Quem quiser usar esses telefones, contudo, pode ter alguma dificuldade. Isso porque a reportagem visitou algumas bancas no Centro da Capital, para descobrir se alguma delas ainda vendia cartões telefônicos. Logo no primeiro estabelecimento visitado, o responsável pela banca e até um cliente que estava no local reagiram com espanto ao questionamento do repórter. “Cartão telefônico para orelhão?! Isso daí nem existe mais”, disse o cliente. “Já vendemos aqui, mas já paramos de vender faz alguns anos”, complementou ainda o comerciante.
Em todas as seis bancas visitadas, inclusive, a resposta foi negativa ao questionamento sobre a disponibilidade de cartões telefônicos. “Já vendemos muito desses cartões aqui, antigamente tinha bastante orelhão pela região e o pessoal usava muito, mas já faz uns cinco anos que não comercializamos mais. Não tinha mais procura”, esclareceu o responsável por outra banca na Rua XV de Novembro.
‘Todo santo dia tem alguém usando o orelhão, é incrível’, diz lojista
Engana-se, contudo, quem pensa que não há mais quem use os orelhões em Curitiba. Na esquina da Rua José Loureiro com a Barão do Rio Branco, por exemplo, há um desses telefones. E, segundo o dono de um bar que fica bem na frente do local onde está o telefone público, o equipamento é usado com relativa frequência. “Toda semana tem alguém usando o telefone aí, principalmente aos finais de semana”, relatou o comerciante.
O orelhão mais preservado ou em melhor condição, no entanto, foi localizado na Rua da Cidadania Matriz, próximo à Praça Rui Barbosa. O equipamento fica bem em frente à loja de videogames Space Tech’s, de Anderson Alves dos Santos, que conta ainda haver uma demanda grande pelo equipamento, ao ponto de se chegar a ter até briga no local quando alguém demora demais numa ligação e há outra pessoa esperando para poder telefonar.
“Aqui tem movimento, o pessoal usa todo santo dia o orelhão. É incrível”, diz ele, relatando haver até uma senhora que vai quase todos os dias ao local. “Ela vem quase todo dia ligar para não sei quem e começa a falar um monte de palavrão aqui. Mas todo dia tem gente usando [o orelhão]. Para você ter ideia, chega a dar briga aqui, porque alguém vem, usa o telefone e fica demorando, aí quem está esperando fica puto e as vezes até vai chamar a Guarda Municipal, reclamar que quer usar o telefone e quem está usando não sai de lá. Também é comum da gente ver alguém que está falando ao telefone se irritar durante uma chamada e acabar descontando a raiva no orelhão [risos]. Tem bastante história aqui”, diz o empresário.
Anderson, inclusive, relata que chegou a ter uma coleção de cartões telefônicos. “Eles eram muito lindos, era uma coisa muito bacana, até porque era uma forma de você descobrir coisas novas. Eram várias coleções que traziam informações diferentes, por exemplo, sobre a fauna brasileira. Eu lembro até que teve uma série de cartões sobre passarinhos, que os cartões vinham até embalados num plástico transparente. Era muito legal”, recorda.
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Como encontrar e usar os orelhões?
Para informar onde estão os telefones públicos ainda ativos, a Anatel criou o sistema Fique Ligado, que possui um mapa através do qual é possível encontrar informações detalhadas, como a quantidade e localização de orelhões instalados em cada município ou quantos e quais deles estão ainda ativos ou em manutenção. Outra opção é, nesse mesmo sistema, clicar em “Dados Estatísticos” e baixar as planilhas completas com a localização de cara orelhão nos estados e cidades brasileiras. Para conferir, basta acessar o site https://sistemas.anatel.gov.br/fiqueligado.
Já para utilizar um orelhão, as principais opções de uso são as chamadas locais a cobrar (digite 9090 + número de telefone) ou as chamadas com cartões telefônicos (no caso de chamadas locais, basta digitar o número de telefone). Mais informações podem ser conferidas no site da operadora Oi, mantenedora do sistema no Paraná, através do site www.oi.com.br/portaloi/orelhao.