Diga não à droga da descriminalização. Por Marcus Aragão
Que viagem! O STF tem aproximadamente 20 mil processos em tramitação. Só o Ministro Zanin vai herdar 520 processos de Lewandoviski, mas eis que surge na frente de tudo: a descriminalização da maconha!
Será que não temos outras prioridades no Brasil? Questões relacionadas ao acesso à educação de qualidade ou à saúde? Combater a corrupção? Não, nada disso! A agenda do nosso país esta semana foi descriminalizar uma droga.
Não basta as séries da Netflix mostrarem o uso de drogas com tanta ênfase que daria para desconfiar que fosse merchandising — quando o produto paga para aparecer no filme ou novela; não bastam nossos filhos serem assediados numa época em que tudo parece sem limites e sem valores; não basta as músicas fazerem apologia ao uso de drogas, agora, a pauta nacional é descriminalizar a maconha. Será que tudo isso não é mera coincidência e sim um plano sistemático para garantir a aceitação pela sociedade?
— Tem gente querendo jogar uma cortina de fumaça na questão das drogas?
Essa história realmente não está cheirando muito bem. Será exagero pensar que o próximo passo seria a legalização, onde a droga seria vendida em supermercados e postos de combustível? Depois, legalizaríamos a cocaína? O primeiro passo é sempre a descriminalização, depois virá a legalização.
É bom já ficarmos preparados para combater as narrativas alucinantes. Segundo Kevin Sabet, professor de Yale e autor dos 7 mitos da legalização da maconha, a descriminalização atuará em favor da máxima da economia: Quanto maior a facilidade, maior será a oferta e maior ainda o consumo. Álcool e tabaco são drogas legalizadas, e seus efeitos são mais drásticos porque estão muito mais disponíveis. A legalização da maconha elevará o número de usuários e o número de danos sociais e familiares resultantes do uso da droga, assim como as doenças relacionadas ao uso.
Entretanto, para os defensores da maconha, é importante dizer que o álcool e o tabaco são mais nocivos para aumentar a aceitação da droga. É comum dizerem que a maconha causa menos danos do que o cigarro, o que é uma mentira. A fumaça da maconha faz com que o risco de contrair câncer de pulmão seja vinte vezes maior do que a fumaça do cigarro, pois contém 50 a 70% mais hidrocarbonetos cancerígenos do que a fumaça do tabaco.
A quantidade de amônia na maconha é vinte vezes maior do que a do cigarro, e os níveis de cianeto de hidrogênio e de óxido nítrico afetam o coração e o pulmão, porque sua concentração é cinco vezes maior do que a presente no tabaco.
Para refletir a título de comparação, é preciso perguntar se o imposto sobre o álcool e sobre o tabaco cobre os custos sociais de seus prejuízos à sociedade — A resposta é não.
Essas duas drogas lícitas trazem perda da capacidade produtiva, faltas ao trabalho, abandono dos estudos, doenças físicas e mentais como hepatite, cirrose, câncer e problemas psíquicos, acidentes de trânsito, mortes prematuras e desajustes familiares.
Nos EUA, por exemplo, a receita do álcool é de 14 bilhões de dólares, e o custo é de 185 bilhões. A receita do tabaco é de 25 bilhões de dólares, e o custo é de 200 bilhões.Em 2012, a receita de cigarros no Brasil foi de 9 bilhões, quando o custo foi de 20 bilhões.
— Assim como um bumerangue desgovernado, essa descriminalização pode ter um retorno com consequências inimagináveis — assim como ocorreu na Califórnia.
O psiquiatra Valentin Gentil Filho, professor titular da USP, é contra a descriminalização e afirma que os riscos à saúde existem, como depressão e psicoses, especialmente nas pessoas com alguma predisposição: “Quanto mais precoce, mais forte e mais frequente o uso da maconha, maior o risco do surgimento de problemas de saúde, muitos deles irreversíveis, como quadros psicóticos de esquizofrenia” — Afirma o psiquiatra.
É preciso estar entorpecido para acender essa ideia. Para coibir os danos da droga, temos leis que tentam limitar os excessos e a comercialização. Como não foram suficientes, a solução é mudar as leis? Não prender para não ter muitos presos? Sério, isso? Esse raciocínio se equivale a acabar com as leis do trânsito para resolver o problema das multas.
A descriminalização e posterior legalização da maconha não diminui o poder do tráfico ou a violência. A maconha representa apenas de 15 a 20% da renda obtida pelos traficantes.
Outra questão é saber qual mensagem estaríamos passando para os jovens e o mais importante, qual interpretação os jovens estariam fazendo dessa descriminalização — “Ah, acho que se realmente fizesse mal, o governo não estaria liberando…” — Não duvido que esse seja o pensamento de um jovem quando souber da descriminalização.
Vamos fazer a cabeça com conhecimento, esporte e cultura. A Suécia tem atualmente um terço do número médio de dependentes químicos na Europa, de acordo com o relatório “A bem-sucedida estratégia de drogas da Suécia”, divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC). Os suecos investiram três vezes mais na prevenção do que a média do continente.
A Islândia ocupa o primeiro lugar no ranking europeu sobre adolescentes com um estilo de vida saudável. A taxa de meninos de 15 e 16 anos que consumiram grande quantidade de álcool caiu de 42% em 1998 para 5% em 2016. Já o índice daqueles que haviam consumido cannabis passou de 17% para 7%, e a taxa de fumantes diários de cigarro caiu de 23% para apenas 3%.
Em 1992, o Governo colaborou para a criação do Projeto Autodescoberta. Os jovens foram encorajados a aprender música, arte, dança, hip-hop ou artes marciais, aliviar o estresse e não procurar drogas.
— A descriminalização da maconha será a porta de entrada para decisões mais pesadas, como a legalização.
Não temos como olhar com bons olhos para essa questão — Mas com olhos vermelhos de chorar em ver a perspectiva dos nossos jovens.