‘Realidade indígena não é a do ator Leonardo DiCaprio ou a do Macron’, diz presidente da CPI das ONGs
Depois de quatro anos e meio de tentativas, no fim do primeiro semestre de 2023, finalmente, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) conseguiu instalar a CPI das ONGs. Em entrevista ao site da Jovem Pan, o parlamentar, que preside a comissão, afirma que o objetivo da apuração é “mostrar para o Brasil inteiro os índios invisíveis”, que são, em suas palavras “usados” pelas organizações que atuam na Amazônia como um “Estado paralelo“, como disse, em sua audiência, o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo. “Só ouvimos que o clima está sendo prejudicado, que a Amazônia está pegando fogo e devastada, que estão acabando com a cultura do índio, e que o índio não quer isso. Estamos mostrando que o índio quer sair do isolamento, quer dignidade e autonomia”, diz. Na avaliação do tucano, o colegiado, cujos trabalhos foram iniciados em 14 de junho, tem um saldo positivo. Depois de sessões com seis depoentes, os senadores vão receber antropólogos que trabalharam na instauração das reservas indígenas e representantes de algumas empresas, como o presidente da Natura, João Paulo Brotto Gonçalves Pereira, que deve ser ouvido após o recesso parlamentar. Valério ainda diz que as redes sociais são o grande parceiro da comissão, pois por meio delas o “Brasil já tomou conhecimento desta triste realidade: Amazônia rica na cabeça de todo mundo, e a sua população paupérrima, beirando a miséria”. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Que balanço o senhor faz das primeiras sessões da CPI das ONGs? Gostaríamos de mostrar ao Brasil inteiro os índios invisíveis, que são aqueles que reclamam que não são atendidos nem acolhidos. Eles são usados pelas ONGs. Já conseguimos levar seis depoentes para as sessões, e o Brasil tomou conhecimento da realidade indígena que não é aquela realidade do ator Leonardo DiCaprio e do presidente da França, Emmanuel Macron. Encerramos este primeiro ciclo com o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo, que sensibilizou e mostrou conhecimento. Agora, vamos partir para antropólogos que ajudaram a fazer as demarcações de terras, pois é aí que mora o perigo. Estas ONGs ganham dinheiro para demarcar terras e inventar índios no meio do mato. Em seguida, já em agosto, vamos começar a ouvir as ONGs. O balanço é positivo, porque a rede social abraçou a causa. O Brasil já tomou conhecimento desta triste realidade: Amazônia rica na cabeça de todo mundo, e a sua população paupérrima, beirando a miséria.
Por que a CPI das ONGs está mobilizando a opinião pública? O brasileiro não tem conhecimento profundo da Amazônia. A população costuma ver essa narrativa das ONGs, que é uma narrativa muito forte, pois é financiada por grandes fundos de investidores. No Brasil, só ouvimos que o clima está sendo prejudicado, que a Amazônia está pegando fogo e devastada, que estão acabando com a cultura do índio, e que o índio não quer isso. Estamos mostrando que o índio quer sair do isolamento, quer dignidade e autonomia. Estamos nos contrapondo, mostrando os invisíveis. Ou seja, você imagina a Amazônia como um paraíso e, de repente, descobre que está mais para um inferno, segundo os próprios índios. Esse choque mobilizou a rede social. O instituto socioambiental que aparece em todos os depoimentos coloca índios no meio da floresta para fazer estudos antropológicos. Logo depois, a instituição pede que a Funai encomende um estudo a eles. Daí eles provam que ali houve índio há mil ou dois mil anos antes de Cristo. Com isso, começa a pedir a demarcação de terras, então se faz o estudo pela viabilidade e se espalham índios no meio da floresta, a instituição pega uma etnia que tem cem índios, por exemplo, e espalham em dez lugares, e ampliam aquela área que o índio estava em dez vezes.
Sem contar que há a denúncia de se transformar o caboclo em índios, com o objetivo de aumentar o quantitativo de população. Então, queremos saber: quem são vocês(ONGs)? O que fazem da vida? Já receberam dinheiro? Quanto? Por quê? Com quem gastou esse dinheiro? Com essa CPI, vamos atrás para saber as respostas. As ONGs estão levando palestrantes para ensinar ao caboclo como preservar a floresta. Ele nasceu ali e sempre preservou a floresta o tempo todo. As ONGs estão expulsando os pequenos agricultores porque estão produzindo. Essa pessoa nasceu ali, o pai dele nasceu por lá, então ele vive a vida dele e de repente é expulso, porque está produzindo em terra de proteção ambiental. Esse caboclo caçava, pescava, colhia fruta; ele vai continuar fazendo isso, só que agora a atividade dele passa a ser ilegal, pois virou um inimigo do meio ambiente.
O que esperar do depoimento do presidente da Natura?
A intenção de colocar o presidente da Natura não é para demonizá-lo nem dizer que a Natura é isso ou aquilo. Queremos saber como a Natura compra sementes, pagando 70% acima do mercado, segundo eles dizem, mas não se preocupa em saber como o agricultor que está colhendo vive e quanto ele ganha. Queremos saber como a Natura conseguiu esse contrato para ter supremacia, autonomia e exclusividade como a única empresa que produz produtos a base de andiroba e de copaíba. Quem assinou o contrato? Quanto se pagou por esse contrato? São perguntas simples, não queremos prejudicar a Natura. E não vai ser só a Natura, levaremos mais instituições.
Diante do que o senhor diz, por que acredita que a imprensa tem focado a cobertura na CPMI do 8 de Janeiro e na CPI do MST? No começo, não acreditaram que conseguiríamos a CPI e enrolaram por quatro anos, mas conseguimos novas assinaturas. Achavam que o presidente [do Senado, Rodrigo Pacheco] não ia ler o requerimento no plenário, mas ele leu. Eles acharam que o presidente não ia autorizar, mas os blocos parlamentares nomearam seus membros. Fizemos desse limão azedo uma boa limonada. Hoje, dos 11 titulares, temos seis fechados conosco. Você tem no conselho dessas ONG só pessoas importantes da elite brasileira, como: donos de jornais e de televisões, procuradores, ex-ministros. Então, o que eles fizeram? Vamos ignorar e não vai dar em nada. Mas se esqueceram de uma coisa chamada rede social. Eu diria, agora, que eles já despertaram e estão se mobilizando em congressos. Há um, inclusive, que todo ano é realizado em Nova Iorque e vai ser realizado aqui em Brasília agora. Sempre diziam que não tínhamos importância, não é? Mas eles se deram mal e podem se dar mais mal ainda.