Fala do ministro do STF sobre a derrota do bolsonarismo colabora para incitar as críticas contra o Judiciário
Reza a doutrina católica que os sete pecados capitais são a soberba, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula e a preguiça. Ontem, o ministro do STF Luís Roberto Barroso cometeu um oitavo pecado capital, diria eu: o sincericídio.
Não é novidade que o magistrado nunca morreu de amores por Jair Bolsonaro e seus aliados. E a frase “perdeu mané, não amola”, dita a um eleitor que questionava a idoneidade das urnas em novembro do ano passado, personificou a antipatia de Barroso ao ex-presidente – e, por consequência, aos seus eleitores.
Ontem, Barroso cometeu outro deslize. Durante congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) o ministro disse, com todas as letras,“nós derrotamos o bolsonarismo”.
Hoje, Barroso correu para se explicar. Após reações de deputados e senadores da oposição, que ameaçam apresentar um pedido de impeachment, ele veio com a mesma justificativa de sempre: a fala foi tirada de contexto. Na nota oficial, o ministro afirmou que a frase se referia ao “voto popular e não à atuação de qualquer instituição”, em referência ao STF.
Tirada de contexto ou não, a fala representa um acinte à nossa República. É inadmissível, para o bom funcionamento do Estado Democrático de Direito, assistirmos a um episódio como esse. Sejamos sinceros. Todo magistrado tem a suas preferências políticas. Afinal, todos somos humanos. O problema é externar essa preferência publicamente, ainda mais em um evento de caráter partidário (sim, a UNE até hoje é vista como berço de formação política de partidos da esquerda).
Digo mais: em situações normais de temperatura e pressão, um ministro do STF sequer deveria participar de um evento como esse.
Para o bem da democracia brasileira o ideal é que tivéssemos magistrados que voltassem a se manifestar apenas nos autos, não fora deles. Esse tipo de manifestação extemporânea, como a de Barroso, serve apenas para incitar os ânimos mais exaltados e para corroborar as críticas populares ao STF. Definitivamente, a democracia brasileira poderia ter dormido sem essa.