Com o governo em crise e enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adota uma postura centralizadora, na visão de auxiliares, ministros de projeção nacional como Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento), Marina Silva (Meio Ambiente), Rui Costa (Casa Civil) e Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) enfrentam barreiras para alcançar protagonismo em busca do papel de herdeiros do espólio político.
Esse grupo está à frente de pastas estratégicas e é composto quase integralmente por ex-presidenciáveis. A exceção é Costa, citado na largada da gestão como um potencial sucessor de Lula diante da bagagem de oito anos governando a Bahia e pelo protagonismo da Casa Civil, que coordena as ações de governo — Dilma Rousseff chefiava a pasta quando foi escolhida para concorrer à Presidência em 2010.
Ao longo da gestão, no entanto, a vitrine esperada transformou-se em um espaço à sombra do chefe do Executivo, que toma decisões ouvindo um círculo restrito de auxiliares e não dá sinais de que pretende iniciar uma transição com vistas à sucessão.
Nesse cenário, integrantes do governo avaliam que nomes da frente ampla na eleição de 2022, como Alckmin, Tebet e Marina, estão subutilizados em uma gestão com reprovação em alta e que precisará de apoio do centro para 2026.
A inibição da atuação política dos presidenciáveis que hoje compõem o primeiro escalão também é explicada pela interdição do debate sobre a sucessão. No Planalto, auxiliares do presidente afirmam que o petista é o candidato natural por ser o único em condições de vencer a oposição.
— Não é uma tarefa fácil surgir um nome. É como se a nossa base social dissesse: “Eu não quero outro, eu quero o Lula” — diz o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).
Candidato à Presidência em 2018, Haddad iniciou o terceiro mandato visto como a principal opção para o pós-Lula. A série de desgastes à frente do cargo, como a pecha de “Taxadd” devido às medidas que ampliam a arrecadação do governo e a crise do Pix, minaram a popularidade e reduziram suas chances. Pesquisa Quaest de fevereiro entre possíveis candidatos à Presidência em 2026 apontou que Haddad é o mais rejeitado, com 56%.
Em meio ao desgaste, Lula afagou publicamente o auxiliar nas últimas semanas. Aliados do ministro da Fazenda argumentam que qualquer movimento que o cacifasse para um voo nacional teria riscos de contaminar a condução da pauta econômica do governo e dinamitar suas relações com o mundo político de Brasília. Procurada, a Fazenda não quis se manifestar.
Antagonista de Haddad no governo, Rui Costa ocupa uma cadeira de projeção, mas o destaque não vem ocorrendo. Ele não ganhou impulso nacional nem buscou retomar uma intenção já manifestada no passado de se colocar como possível candidato do PT à Presidência. Seus movimentos políticos atuais são voltados para manter influência política na Bahia, estado em que deve concorrer ao Senado em 2026. A Casa Civil não quis se manifestar.
Quem também enfrenta obstáculos é Marina, peça-chave da frente ampla em 2022. No ano da COP30 no Brasil, a ministra está às voltas com pressões do entorno presidencial e do próprio Lula para destravar as licenças do Ibama que dão aval a estudos sobre exploração de petróleo na Margem Equatorial.
Integrantes da gestão próximos a Marina afirmam que os conflitos são naturais e argumentam que a pauta ambiental é transversal no governo e terá uma série de avanços para deixar de legado em relação à gestão de Jair Bolsonaro, como a redução no desmatamento. O Ministério do Meio Ambiente não quis se manifestar.
À frente do Planejamento, Simone Tebet também foi considerada um trunfo de Lula ao apoiá-lo no segundo turno em 2022. No governo, porém, tem ficado fora das decisões centrais e de outras diretamente relacionadas à sua pasta. O grupo da ministra nega que ela esteja apartada de conversas sobre o Orçamento e argumenta que o que ocorre é que a equipe econômica é pega de surpresa com medidas de Lula ou da Casa Civil.
Ex-adversário de Lula e principal novidade na chapa petista em 2022, o vice Geraldo Alckmin chegou ao governo com promessa de integrar o núcleo principal de decisões, o que na prática não ocorre.
O vice-presidente, no entanto, tem protagonismo em temas específicos, como as discussões sobre políticas que contenham a inflação dos alimentos e possam mitigar o tarifaço americano às importações brasileiras. Pessoas próximas afirmam que Alckmin não entrou no governo mirando a sucessão do chefe nem pretende fazer qualquer tipo de sombra a Lula. Procurado, Alckmin não se manifestou.
O Globo
