Crescem casos de doenças cardiovasculares em mulheres
A saúde da mulher, muitas das vezes, foi tratada cientificamente de forma generalizada. Um exemplo disso é que sempre se acreditou que os riscos de doenças cardiovasculares eram os mesmos tanto para homens quanto para mulheres. No entanto, o estudo Posicionamento sobre Saúde Cardiovascular nas Mulheres, realizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), tem chamado atenção para o tema de forma particular no quesito saúde feminina.
Isso porque, segundo a Dra. Carla Janice Baister Lantieri, assistente da Disciplina de Cardiologia do Centro Universitário da Faculdade de Medicina do ABC, que também contribuiu para a construção do documento, hoje, a medicina sabe que o ciclo de vida das mulheres apresenta diferentes fases e cada uma, com suas características, está conectada ao aumento dos fatores de risco para doenças cardiovasculares.
O tema também ganhou destaque com a publicação de um estudo realizado pelo DataSUS que revelou que, em 2019, as doenças do aparelho circulatório foram a principal causa de mortalidade feminina no Brasil, superior inclusive à soma de todos os tipos de câncer – são mais de 170 mil óbitos por ano no país. Considerando isso, a profissional explica quais atitudes podem prejudicar a saúde do sistema cardiovascular das mulheres e como o tratamento precoce ajuda a combater o problema. Veja!
Fases da vida alteram a saúde das mulheres
Segundo a médica, cada fase da vida exige um cuidado especial. “Em cada momento da vida da mulher, há prioridades de saúde. Por exemplo, a gravidez é um momento de alteração importante dos níveis hormonais com propensão ao aparecimento da hipertensão arterial gestacional, a qual tem chance de evoluir para a hipertensão sistêmica pós-gestação. No pós-parto, há alterações glicêmicas e dificuldade para reduzir o peso. Na menopausa, temos a perda do fator protetor do estrogênio, quando o sistema fica mais vulnerável a sofrer um infarto do miocárdio”, relata a Dra. Carla Janice Baister Lantieri.
A especialista também explica que o estereótipo de que as mulheres se cuidam mais pode, também, prejudicar os cuidados com a saúde. “Isso acontece devido aos exames ginecológicos, mas não quando falamos das doenças do coração. Estamos usando a expressão janela de oportunidade para os profissionais investigarem a fundo a saúde e o estilo de vida como um todo, encaminhando os casos sempre que necessário para o especialista responsável – nesse caso, o cardiologista – para que se crie uma rotina de cuidados preventivos”, analisa a especialista.
Tabaco e bebida alcoólica causam alterações no organismo
A exposição ao tabaco e aos cigarros eletrônicos tem sido observada em um número considerável entre crianças e adolescentes, o que se torna um problema de saúde pública e deve ser enfrentado de forma intersetorial, para a implementação de medidas preventivas e terapêuticas.
“Além disso, também foi constatado que aquelas que iniciam o consumo drogas ilícitas e bebidas alcoólicas na adolescência são mais suscetíveis à gravidez não planejada, que é responsável por alterações físicas e na saúde emocional. Por isso, quando falamos de saúde cardiovascular da mulher, o cardiologista não é o único responsável pela atenção: é preciso uma equipe multidisciplinar que entenda e oriente para as diferentes particularidades do ciclo”, diz a médica.
Atenção aos sintomas
Todos os sintomas devem ser levados em consideração. Até porque, no caso de infarto, a mulher pode não apresentar os sinais comuns, negligenciados por médicos e pacientes. “Desconforto epigástrico, fadiga e palpitações acabam sendo vistos como sintomas de ansiedade e atrasam o início do tratamento correto”, destaca a Dra. Carla Janice Baister Lantieri.
Importância do cuidado precoce
A profissional explica que cuidado e atenção devem vir desde a primeira infância, objetivando construir um comportamento alimentar saudável, com estímulo ao consumo de alimentos in natura e preparo da própria refeição. Além disso, é preciso, claro, motivar a mulher à prática de atividades físicas e a promoção de sua saúde mental.
“Esse assunto não pode ser generalizado, porque o documento elaborado pela SBC também mostra que existe a situação socioeconômica – mulheres de baixa renda passam por todos esses desafios porque estão mais propensas a ter obesidade e colesterol alto, por exemplo, devido à falta de iniciativas que propaguem o conhecimento a respeito da sua saúde. Um dado preocupante é também a violência contra a mulher: muitas vezes, essas [mulheres] se encontram expostas ao estresse crônico, que corrobora o adoecimento precoce”, conclui a Dra. Carla Janice Baister Lantieri.