Entenda tudo sobre a endometriose, doença recém-diagnosticada de Anitta
A endometriose é um problema crônica que afeta as mulheres, pois é um quadro desencadeado pela inflamação de um tecido localizado dentro do útero. O endométrio é a mucosa que reveste a parede interna da cavidade uterina e abriga o óvulo após a fertilização. Quando não há fecundação, boa parte desta mucosa é eliminada na menstruação e o que sobra volta a crescer para recomeçar o ciclo.
Esta sequência não acontece com pessoas que convivem com a endometriose, pois as células da região, ao invés de serem expelidas no período menstrual, seguem o sentido oposto e se espalham para outras áreas da cavidade abdominal. Lá, se multiplicam e formam nódulos inflamatórios.
O médico responsável pelo setor de cirurgia minimamente invasiva (endometriose e robótica) do hospital Samaritano de São Paulo, Claudio Severino Junior, explica que ela causa dor, principalmente durante a menstruação, na cavidade pélvica (onde fica o útero), e/ou nas regiões que o tecido invadiu.
“No período menstrual ela [endometriose] apresenta sinais mais característicos, mas ela está na mulher o tempo inteiro. Durante o período menstrual, a inflamação aumenta – esse tecido fica ativo, levando a dor, principalmente nas localizações [onde ele se espalhou]”, informa.
E acrescenta: “ele [tecido] pode crescer na parede da bexiga, do intestino, ovário. Quando vem a menstruação ou uma relação sexual – que aumenta a circulação no local – pode haver uma inflamação e levar a dor”.
O especialista ressalta que o principal sintoma é a dor e que, algumas pacientes, sentem essa dor o tempo inteiro e se multiplica no período menstrual.
Ademais, o médico ressalta que por mais que algumas pessoas apontem como uma situação comum, sentir cólicas intensas duranta a menstruação não é um padrão.
“Toda vez que você sente dor vale a pena fazer uma investigação, ela não é normal. A gente vive num mundo machista que fala para mulher que ter dor de cólica é normal e não é. Menstruar é normal, ter um incômodo muito leve a gente considera normal, mas o limiar de dor é muito pessoal”, alertou.
O ginecologista, obstetra e diretor de comunicação da SBE (Sociedade Brasileira de Endometriose), Marcos Tcherniakovsky, revela que os sangramentos ao urinar durante a menstruação e dor ao evacuar também são indicativos de endometriose.
“Inchaços abdominais são muito frequentes, assim como dor ao urinar, sangramento na urina na época da menstruação, alterações intestinais, como dor ao evacuar, muitas vezes sangramento ao evacuar também pode ser queixa importante. Além de pacientes com dor pélvica crônica, que são aqueles que se queixam de dor por mais de 6 meses”, disse.
A infertilidade também é um sintoma e uma consequência da endometriose. Como um indício da doença, a paciente passa um longo período tentando engravidar e não consegue. Já como consequência, Severino alerta que é a principal causa de infertilidade, pois o tecido pode se espalhar e danificar as trompas – local onde ocorre a fecundação.
“Prejudica muito, porque quanto mais aumenta a inflamação, mais gruda dentro da barriga da paciente, formando aderências. Essas aderências impedem que a trompa capte um óvulo ou, atém mesmo, as fecham, deixando a trompa sem função nenhuma. Isso, leva à infertilidade”, explica Severino.
A doença não impossibilita a gravidez, mas dificulta o processo. Um tratamento correto é feito com consultas a um especialista em reprodução assistida, por exemplo, podem mudar a situação e viabilizar a gravidez.
Anitta passou anos com o diagnóstico de cistite de repetição – inflamação urinária constante – antes de receber a notificação da endometriose.
Quando a cólica continua por muito tempo, interfere no ritmo de vida, muda a qualidade de vida , levando até mesmo a faltas no trabalho. Além de dificultar as relações sexuais, é hora de buscar um profissional qualificado e realizar os exames.
O médico explica que é essencial que a paciente que passa por quadros de dor durante a menstruação faça um estudo mais específico com uma ressonância magnética.
De acordo com Severino, há tratamento clínico e cirúrgico. O clínico consiste em fisioterapia pélvica, nutrição com dieta anti inflamatória e medidas para bloquear o ciclo hormonal da paciente com anticoncepcional ou medicações específicas para endometriose.
Se a paciente pretende engravidar, este ciclo não pode ser bloqueado. Nestes casos, é indicada a fisioterapia, analgesia (com acupuntura e medicações, dependendo do grau de necessidade da paciente) e a dieta anti inflamatória.
Entretanto, Severino alega que a endometriose é uma patologia que quase sempre exige intervenção cirúrgica, pois a mulher só será beneficiada se forem retirados os focos da endometriose, do útero e dos outros órgãos.
Severino indica que a principal prevenção é buscar a qualidade de vida. Sendo assim, as mulheres que desconfiam do quadro devem realizar os exames indicados e, caso recebam o diagnóstico da doença, procurar um especialista que trate especificamente da endometriose.
Esta doença, de acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), afeta cerca de 10% da população feminina brasileira e é mais frequente entre mulheres de 25 a 35 anos. Portanto, é fundamental atentar-se aos sintomas e realizar consultas com profissionais éticos e qualificados.
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